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sábado, 17 de setembro de 2016

Julieta: Pedro Almodóvar ensina sobre o verdadeiro cinema

"...Cores que não sei o nome, cores de Almodóvar..." — os versos de Adriana Calcanhoto saltam à tela em "Julieta": nova produção cinematográfica do intrépido cineasta espanhol. O filme sofreu com críticas negativas (considerando-o aquém de trabalhos anteriores do autor) e bilheterias relativamente fracas. O tom das críticas anteriores pesa por ser um filme sem grandes reviravoltas na narrativa.


Acontece que Julieta é vítima da cinefilia hollywoodiana: todo filme deve ter um sentido. Almodóvar é genial por nos lembrar que o cinema é, antes de tudo, fotografia. As cores primárias contrastam na tela conduzindo o telespectador a um sentimento qual também não tem nome. Cada imagem de Julieta evoca mil sentidos que só se pode saber sentindo. Para a escola americana o sentido final justifica as partes do filme, para Almodóvar, o sentido das partes justifica o filme.

O fato é que assistir Julieta é como comer um pequeno pedaço de uma deliciosa lasanha: você quer saborear bem devagar para que demore mais. Pedro não lhe martiriza com cenas desagradáveis para te recompensar com um grande final, ele lhe oferece prazer a cada quadro. É verdade que a trama não é tão intensa como "Carne Trêmula", tão atraente como "Ata-me", os personagens não são tão empáticos como em "Tudo sobre Minha Mãe" e não há polêmicas como em "O Matador". Porém,  a narrativa de Julieta tão lenta quanto bela e combina com a serenidade que o filme traz.

Julieta representa a ruptura de Almodóvar com o cinema comercial: ele nos entrega arte pela motivação da arte. Posso dizer que Julieta é contraindicado apenas para daltônicos... E não estou falando do daltonismo biológico.

Por David Brasil: psicólogo e entusiasta de qualquer arte que se sinta
arenadecimaarte@gmail.com

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