Acontece que Julieta é vítima da cinefilia hollywoodiana: todo filme deve ter um sentido. Almodóvar é genial por nos lembrar que o cinema é, antes de tudo, fotografia. As cores primárias contrastam na tela conduzindo o telespectador a um sentimento qual também não tem nome. Cada imagem de Julieta evoca mil sentidos que só se pode saber sentindo. Para a escola americana o sentido final justifica as partes do filme, para Almodóvar, o sentido das partes justifica o filme.
O fato é que assistir Julieta é como comer um pequeno pedaço de uma deliciosa lasanha: você quer saborear bem devagar para que demore mais. Pedro não lhe martiriza com cenas desagradáveis para te recompensar com um grande final, ele lhe oferece prazer a cada quadro. É verdade que a trama não é tão intensa como "Carne Trêmula", tão atraente como "Ata-me", os personagens não são tão empáticos como em "Tudo sobre Minha Mãe" e não há polêmicas como em "O Matador". Porém, a narrativa de Julieta tão lenta quanto bela e combina com a serenidade que o filme traz.
Julieta representa a ruptura de Almodóvar com o cinema comercial: ele nos entrega arte pela motivação da arte. Posso dizer que Julieta é contraindicado apenas para daltônicos... E não estou falando do daltonismo biológico.
Por David Brasil: psicólogo e entusiasta de qualquer arte que se sinta
arenadecimaarte@gmail.com
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